quinta-feira, 20 de agosto de 2009



Com toda a sinceridade, devo dizer que contemporizei com a segunda guerra ao Iraque. Na sequência do mundo saído do 11 de Setembro, pareceu-me ser ali um dos nós da luta contra o terrorismo, especificamente por via das relações com o conflito entre israelitas e palestinianos. Pouco reflectidamente, não aquilatei das possibilidades da ideia e do propósito da potencial bola de neve democrática na região, como então o pretendiam os conselheiros da administração Bush. Não vou aqui discutir as razões do primeiro dos anteriores pressupostos, mas tenho que admitir a minha ingenuidade em face do segundo.
Sem me querer estar a defender do erro pretérito a que aludi e mesmo admitindo que as consequências mais positivas da alteração naquele país do Oriente Médio ainda estão para vir, a verdade é que os factos não autorizam qualquer olhar benevolente perante toda a forma como o processo foi conduzido por parte dos nossos Aliados. Olhando friamente os dados sobre a mesa, o saldo que até agora é possível fazer, se do ponto de vista social e político, para os iraquianos não vai além de um verdadeiro desastre e, para os ocidentais, também não vai além desse patamar, já do ponto de vista económico, aquilo que se verificou foi uma nova fonte de negócios que a própria guerra gerou. E de forma diversa do passado, não estamos agora apenas a falar das tradicionais reconstruções ou dos reenquadramentos do controle de fontes de energia, no caso e em particular o petróleo e o gás natural; como esta notícia deixa claro, estamos a verificar o florescimento do envolvimento mercenário ¿que outro termo será possível aplicar aqui?- de interesses privados na própria execução das operações bélicas. Infelizmente para toda a Humanidade, sedenta que está de paz e trabalho, se perguntarmos quem tem lucrado com as consequências daquela invasão e do estado de guerra que lhe sucedeu, a resposta vai sobretudo na direcção desses interesses particulares e mais ou menos esconsos.
Com isto, os ocidentais alienaram grande parte do capital moral que a declaração de guerra que foi o acto terrorista em 11 de Setembro de 2001 lhes trouxera, uma boa década decorrida sobre o desperdício político e social que se seguiu à queda do Muro de Berlim e ao fim do bloco comunista. A verdade é que um capitalismo financeiro selvagem ditou os seus ditames aos poderes políticos e em vez de um apoio total à ainda então União Soviética, no sentido de aí promover a abertura em direcção a um estado de direito, deu-se a mão àqueles que mais não queriam que repartir o bolo em seu ávido benefício e assim se deixou que a Rússia saída do comunismo viva a situação que hoje lhe podemos observar e que nada tem a ver com uma sociedade livre e democrática, muito menos desenvolvida e justa. Aqui pergunto-me se grande parte destas culpas não estará nas esquerdas norte-americana e europeias que, sem propostas de um mundo alternativo à lógica desse tal capitalismo financeiro selvagem, sucumbiram perante a ilusão de um mundo de hiper-consumo alimentado pelo crédito. Pois mais uma vez a história se repetiu e a ganância voltou a falar mais alto que a dignidade dos homens.
Não estranha pois que a própria guerra volte a ser contratada a exércitos privados, coisa que na História europeia não tem nada de estranho. Mas é um recuo civilizacional, pois é a melhor prova de como os interesses egoístas se estão a sobrepor ao estado de direito.
São os ciclos milenares em que a liberdade recua depois de um rasgo de vislumbre da luz do dia. Mas os homens de bem sabem que jamais a alguém foi permitido baixar os braços nesse lado da justiça que sempre foi conquistada pelo suor e a dor de muitos e tantas e tantas vezes com o sangue dos inocentes.

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